Esta é a segunda matéria
de uma série de perfis de jornalistas, publicada no
Novo Jornal RN, que fizeram história no Rio
Grande do Norte.
A série é resultado do projeto Memória do jornalismo do Rio Grande do Norte de
autoria dos jornalistas-pesquisadores Juliana Bulhões A. Dantas e Gustavo
Sobral.
“Eu lia a revista O
Cruzeiro em Assú, cidade onde nasci, e me entusiasmava com a
parte de política. Esperava ansiosamente a cada semana a edição que chegava aos
sábados ao Café de Seu Victor, onde era vendida. Me entusiasmavam os artigos de
Castelinho, o Carlos Castelo Branco, comentarista de política, era o que
despertava mais a minha atenção. E desta forma eu sonhava em ser jornalista e
escrever sobre política.
Assim, acredito, nasceu meu interesse pelo jornalismo. Não imaginava
toda esta aventura que viveria pelas redações dos jornais Tribuna do Norte,
onde comecei, e depois Diário de Natal, para onde fui convidado para ser
repórter de política e assim começa a minha história no jornalismo do Rio
Grande do Norte, antes e depois da offset.
Costumo a afirmar que fiz do jornalismo um sacerdócio, não
comercializei minha consciência nem sujei as minhas mãos. Estive dos dois lados
da profissão, porque além de repórter, também exerci a função de assessor de
imprensa por décadas, portanto, fui estilingue e vidraça. Além de repórter, correspondente
de O Globo no Rio Grande do Norte, por cinco anos, e colaborei com outros
veículos como RN Econômico de Cadernos do Rio Grande do Norte e atuei como
redator publicitário na agência Dumbo.
Assessor de imprensa, fui de quatro governadores do Estado: Tarcisio
Maia, José Agripino, por dois mandatos, Radir Pereira e Vivaldo Costa, e do
prefeito José Agripino na Prefeitura de Natal. Além disso servi como assessor
de imprensa da Federação do Comercio do Rio Grande do Norte, SESC/SENAC e
Tribunal de Contas do Estado.
Embora não tenha sido a primeira opção, me realizei no jornalismo.
Pensava em cursar Direito mas ao mesmo tempo que ingressei na Tribuna meu
destino começou a se voltar para o jornalismo, posteriormente, conclui o curso
de Comunicação Social pela Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza.
O jornalismo me deu tudo o que tenho e o que mais prezo: a
credibilidade. E assim também me fiz pesquisador e escritor. Publiquei livros
sobre a história do Rio Grade do Norte, ingressei nesta condição no Instituto
Histórico e Geográfico do Estado e na Academia Norte-rio-grandense de Letras.
Meu pai resolveu me mandar para estudar em Natal. Capital do Estado,
havia mais chance de eu encontrar meu caminho na vida. E assim, vim para Natal.
Me alojei na Casa do Estudante e conclui o ginasial e o clássico até que um dia
o acaso colocou o jornalismo diante de mim.
Saindo do colégio resolvi passar no Palácio Potengi, sede do governo
do Estado, onde geralmente encontrava pessoas de Açu e foi quando encontrei o
jornalista Walter Gomes, que eu conhecia, me perguntado o que eu fazia Natal.
Expliquei que viera estudar e ele perguntou se eu não gostaria de fazer um
teste para ser jornalista.
Concordei e na manhã seguinte, como combinado, estava na Tribuna do
Norte e para minha surpresa fui logo por ele apresentado ao jornalista
Francisco Macedo e informado de que seria o novo foca. E eu que nem sabia o que
significava isso. Macedo me explicou, significa novato. Me explicou rapidamente
como se fazia uma notícia e me mandou naquele mesmo momento entrevistar o
teatrólogo Sandoval Wanderley que ensaiava a peça Taberna Azul no Teatro
Alberto Maranhão.
Entrevistei-o e redigi a notícia que no dia seguinte estava estampada
na Tribuna do Norte e desde então não parei mais. Na redação da Tribuna
encontrei Walter Gomes na função de editor geral, e na reportagem os
jornalistas Cassiano Arruda, Abimael Morais, Luiz Sérgio Galvão, Gutemberg
Mota, Ana Maria Cocentino Hamilton de Sá Dantas, Helio Cavalcanti, Albimar
Furtado, entre outros.
E ainda havia um time de colaboradores: Berilo Wanderley, Luís
Carlos Guimarães, Woden Madruga, Newton Navarro, Sanderson Negreiros, Rômulo
Wanderley, Nei Leandro de Castro e Paulo de Tarso Correia de Melo e Moacyr
Cirne dividindo uma coluna sobre cinema. O colunista social era Paulo
Franssinetti e o esportivo, João Machado.
A primeira matéria assinada que publiquei intitulava-se “O pequeno
mundo de Vicente” sobre um retirante e sua família que viviam numa Kombi
estacionada na Ribeira. A Tribuna era um jornal padrão Jornal do Brasil que
incorporara as inovações do jornal carioca trazidas pelo jornalista Walter
Gomes. A tônica impressa por Walter era de trazer na primeira página as
notícias locais abandonando a prática corriqueira de imprimir artigos com fotos
do noticiário nacional e internacional.
Walter era partidário de uma máxima de Chaplin: a vida é o tema
local. Diferente do Diário de Natal que na sua primeira página estampava as
notícias policiais o que o fazia um jornal de grande vendagem e popular.
Sensacionalista, comandava-o o jornalista Luiz Maria Alves.
Passei pela reportagem policial, onde todos começávamos, era a
prática, depois cheguei à editoria de assuntos gerais e em seguida à política.
Era o tempo da campanha para o governo estadual, disputavam os candidatos
monsenhor Walfredo Gurgel e Dinarte Mariz aquela eleição de 1965. Fiquei
responsável pela cobertura da campanha do monsenhor. Diariamente, eu apurava o
roteiro da campanha e as notícias eram publicadas com destaque na primeira
página.
Na condição de repórter da Tribuna, comecei a acompanhar a
movimentação política e a ganhar confiança. Fator extremamente necessário ao
exercício do jornalismo político. Assim nascia o repórter político que em mim
havia.
Quando da eleição do monsenhor Walfredo que levou aquele pleito, eu
deixava a redação da Tribuna. Recebera uma oferta para trabalhar no Diário e
fui para pauta de assuntos gerais. Mas foi por pouco tempo, logo fui destacado
para cobrir o Palácio Potengi, ou seja, a agenda do governador empossado, e a
movimentação da Assembleia Legislativa. E comecei a assinar matérias e
reportagens sobre política.
Por sugestão do chefe de reportagem, o jornalista Sanderson
Negreiros, comecei a entrevistar personalidades que marcaram a vida pública do
Estado. Não foi uma ideia de acatei de pronto, o dia-a-dia da profissão já me
exigia bastante, além da cobertura das duas casas, o governo e a assembleia,
era minha obrigação cumprir três ou quatro pautas diárias e compor uma página
inteira para o jornal de domingo.
O Diário circulava aos domingos com o título de O Poti. Mas fui em
frente, este material depois eu reuniria em primeiro livro, De 35 ao AI5. A
redação do Diário já adquirira antes de mim, outros jornalistas e colaboradores
da Tribuna.
O novo Diário ganhou instalações modernas na av. Deodoro no ano de
1970 e o moderno sistema de impressão anunciado no dia da inauguração na página
do jornal, edição de 13 de junho. O editorial saiu da pena de Sanderson
Negreiros e elogio do presidente dos Diários Associados, Paulo Cabral, que
viera para a inauguração: podia ser até publicado no New York Times.
Assim enxugou a folha de pagamento e economizou papel (vivíamos
tempo de crise de papel). O Poti se fixou como um jornal de grandes reportagens
sobre a cidade e o Diário um vespertino sensacionalista, que explorava o
noticiário policial. Foi um sucesso de vendas e de críticas que Alves respondia
com uma frase do ex-presidente do Chile Eduardo Frey: o povo gosta do trágico e
do grotesco.
O sistema ofsset sustentou a mudança e permitiu as grandes tiragens,
o jornal ganhou praça em todo o Rio Grande do Norte. As novas instalações na
Av. Deodoro, no bairro de Petrópolis, em nada pareciam com a precária da av.
Rio Branco, na Ribeira. Não havia luxo, é verdade. A redação dividia espaço com
a impressão sem a confusão do antigo prédio. As tiragens cresceram e o leitor
com o offset poderia ler o jornal sem sujar as mãos”.
FONTE
– BLOG GUSTAVO CABRAL